Peça: Pano de Boca, foto 1

Pano de Boca: Cia Teatro do Incêndio remonta clássico de Fauzi Arap

De em julho 15, 2015

Peça: Pano de Boca, foto 1

Marcelo Marcus Fonseca assina a direção do espetáculo e dá vida ao personagem Pagão

Para marcar a inauguração da nova sede, localizada no boêmio bairro do Bixiga, a Cia Teatro do Incêndio  resolveu homenagear dois ícones do teatro paulistano e remonta o clássico de Fauzi Arap, Pano de Boca, utilizando cenário e figurino baseados nos desenhos da montagem original do saudoso Flávio Império. E para a abertura de um novo teatro, nada mais apropriado do que este texto de Fauzi, em que a discussão central é o fazer teatral na sua essência.
Montada em 1976 pelo autor — que antes de falecer em 2013 autorizou a remontagem —, a peça tem direção de Marcelo Marcus Fonseca, que também encabeça o elenco, e retrata o esfacelamento de um grupo teatral em que os atores ultrapassaram os limites entre a arte e a vida.

Peça: Pano de Boca, foto 2

Gabriela Morato interpreta Magra, uma atriz que abandona a companhia

A própria concepção e estrutura da nova sala de espetáculos faz com que o público, ao entrar e se sentar, já se integre ao espaço cênico, que remete a um teatro abandonado repleto de elementos e sobras de cenários e figurinos de antigas montagens. O texto é constituído de três planos de ação que se intercalam no transcorrer da trama; no primeiro plano há dois personagens (Pagão/ Marcelo Fonseca e Segundo/ Francisco da Silva) que reivindicam com o autor, em crise de criação, a continuidade da história, que no fundo representa a razão da existência deles. No segundo plano há a atriz Magra (Gabriela Morato), que num tom de desabafo e lamento explicita a desintegração total do grupo teatral que até então ela fazia parte. E o terceiro plano traz os atores chegando ao teatro abandonado para uma reunião marcada por alguém não identificado. É exatamente neste contexto que o fazer teatral é questionado profundamente.

“A peça a traz a única discussão oportuna nos tempos atuais sobre a criação, o teatro e a espiritualidade em um tempo em que a esquizofrenia é gerada pela velocidade, atirando o homem no abismo da disputa pelo sucesso, do isolamento, da poluição sonora, da intolerância. Este texto é urgente e necessário, pois aproxima o espectador da cabeça do autor no momento da criação”, explica o diretor Marcelo Fonseca.

Remontar um texto de grande sucesso e ao mesmo tempo homenagear o autor e o cenógrafo da montagem original é mais do que uma atitude louvável da Cia Teatro do Incêndio. A discussão de Pano de Boca, no entanto, por se prender essencialmente ao teatro, pode restringir seu alcance e falar para um público reduzido.

 

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Daniel Ortega, na pele de Paulo: atuação visceral

 

Tive a chance de assistir a estreia e ter a honra de fazer parte de uma plateia que reuniu artistas muito próximos de Fauzi Arap. Além da criativa reconstituição cenográfica, Pano de Boca se destaca pela cuidadosa direção, a bela iluminação de Rodrigo Alves e a interpretação contagiante e visceral de Gabriela Morato, Marcelo Marcus Fonseca e Daniel Ortega.

 

 

 

 

 

 

 

Fotos: Don Fernando


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