Quebrando Mitos: documentário escancara homofobia do governo federal

De em setembro 21, 2022

 

Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira, os realizadores do filme

 

 

Lançado nesta semana — disponível no site oficial —, o documentário Quebrando Mitos, escrito por Fernando Grostein Andrade e dirigido por ele e por seu marido, o músico e ator Fernando Siqueira, expõe a face autoritária, homofóbica, misógina e contrária ao meio ambiente e aos direitos humanos do atual presidente da república do Brasil. No próprio subtítulo do filme, a frágil e catastrófica masculinidade de Bolsonaro, fica explícita a intenção dos realizadores em desmascarar o dirigente e mostrar a forma como ele chegou ao poder, com a cumplicidade e o apoio de religiosos, políticos, militares e segmentos de extrema direita da sociedade.

 

Fernando Grostein, assumidamente gay, depois de ter lançado o documentário Quebrando o Tabu/2011, que discute a descriminalização das drogas, começou a receber ameaças de morte e resolveu deixar o país, juntamente com o marido, para juntos terem condições de realizar este documentário de denúncia à homofobia exalada pelo presidente.

 

 

 

 

 

Jair Bolsonaro é o foco do documentário

O filme começa com a exibição de imagens de Bolsonaro, em diversos momentos de sua vida, em que destila seu pensamento conservador e reacionário. Há um corte e, como narrador, Fernando relata suas experiências de vida, desde sua ligação com o pai (o jornalista Mário de Andrade, publisher da revista Playboy) e a solidão que sentiu com a morte dele, seu amor pelas orquídeas, o relato de estupro e violência sexual que sofreu, sua saída do armário (quando assumiu a homossexualidade), até o processo de criação do filme sobre as drogas e a decisão de deixar o país em razão das ameaças de morte.

 

 

A partir daí o documentário começa a decifrar quem é Jair Bolsonaro, a origem de seu pensamento homofóbico, mostrando seu fascínio pela repressão militar durante a ditadura ainda na adolescência em Eldorado/SP e sua trajetória política até chegar à presidência.

 

 

 

Jean Wyllys dá um emocionado depoimento

 

Ao mesclar informações da vida do diretor/narrador com fatos e declarações do político, o roteiro, assinado por Carol Pires e Joaquim Salles, faz um grande painel da vida política brasileira dos últimos quatro anos. Sempre apresentando mais de uma versão dos fatos, o filme traz imagens de deputados evangélicos da bancada da Bíblia ao lado do depoimento do ex-deputado Jean Wyllys que depois de sofrer ameaças de morte se exilou, cenas da destruição da Amazônia, com queimadas e a ação do garimpo ilegal, depoimentos de lideranças indígenas e de brigadistas da Defesa Civil em contraposição a falas de defensores da arma, negacionistas da ciência e contrários à vacina contra a Covid. Há ainda cenas que revelam o ataque a favelas e comunidades, além da discussão sobre a milícia e a política armamentista do governo federal.

 

 

 

 

 

 

 

Marielle Franco: sua morte tem destaque

 

Nesta grande radiografia da política nacional dos últimos anos, um dos destaques é a atuação da vereadora carioca Marielle Franco, que em pouco mais de um ano de mandato marcado por investigações e denúncias foi brutalmente assassinada, juntamente com seu motorista, em 2018, e até hoje o mundo desconhece os mandantes do crime. O filme chega até às manifestações de 2021 pró governo e os manifestos da oposição, com o grito ‘fora bolsonaro”, e a leitura da Carta aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, realizada no último dia 11 de agosto em diversas capitais do país.

 

 

 

 

 

Sem dúvida, Quebrando Mitos ao ser lançado antes das eleições de 2022 ganha maior importância, por revelar a personalidade (sem máscara) do presidente que tenta a reeleição. No entanto, como os realizadores quiseram montar um imenso quebra-cabeça, com um número excessivo de informações, o poder da denúncia contra a masculinidade tóxica e catastrófica do presidente perde força, se dispersa. Acho que o filme poderia ser mais enxuto, o que deixaria a narrativa mais fluente e com maior impacto.
Porém, o texto emociona o espectador em diversos momentos e o desfecho é irretocável:

 

 

A vida nem sempre é uma dualidade, homem-mulher, direita-esquerda. A vida é complexa. A luta é pela humanidade, é sobre nós e não eu. Não é sobre apatia. É sobre empatia.”

 

 

 

 

 

 

 

Assistam ao filme (ainda está disponível gratuitamente no site oficial), a discussão sugerida por ele é primordial nos dias atuais. Fecho a resenha com a canção Califórnia, de Fernando Siqueira, que também encerra o documentário:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotos: divulgação

 


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