Rabbit da autora inglesa Nina Raine discute a crise dos 30 anos

De em agosto 13, 2012

Elenco da peça: Fernanda Castello Branco, Julia Ianina, Lilian Damasceno, Paula Weinfeld, Nelson Baskerville, Jeronimo Martins e Ricardo Estevam

Tudo acontece numa noite, numa casa noturna, durante a comemoração de aniversário de Bella. Com tudo para ser só alegria e diversão, o quadro proposto pela dramaturga inglesa Nina Raine em Rabbit (em cartaz no Teatro Eva Herz) é totalmente o oposto.
Bella — interpretada em esquema de rodízio por Julia Ianina e Paula Weinfeld —, faz 29 anos e mesmo sendo uma profissional bem-sucedida está em crise existencial. Emocionalmente inconstante, ela convidou alguns amigos que não se conhecem para a festa, mas no fundo não desejava estar ali. É que seu pai, vivido por Nelson Baskerville, está na UTI de um hospital, em estado terminal. Para completar a situação, os convidados estão na mesma condição da anfitriã, ou seja, colhem bons frutos na profissão, mas não sabem lidar com seus sentimentos. A crise não é só da aniversariante, mas de toda uma geração que beira os 30 anos em pleno início do século XXI — a peça foi escrita e apresentada em Londres em 2006.

Bella esconde de seus convidados a situação do pai, exceto de Emily (Lilian Damasceno), que é médica. A peça começa somente com as duas em cena e Emily questiona a amiga sobre a razão da comemoração em virtude da saúde de seu pai; no entanto, a aniversariante diz que precisa extravasar e se divertir. Aos poucos os demais convidados vão chegando: Tom (Ricardo Estevam) é o primeiro e em seguida Richard (Jeronimo Martins). Ambos tiveram relacionamento com Bella; por último é vez de Sandy (Fernanda Castello Branco). Eles não se conhecem e, com a ajuda do álcool, todos se soltam e as verdades começam a surgir. Bella não consegue disfarçar sua apreensão e em flashs, lembra-se de seus embates com o pai, que se recusa a fazer uma operação para extrair o tumor instalado no cérebro. Bella é favorável ao tratamento, mas o pai tenta convencê-la de que sua situação é irreversível e ele não pretende se submeter à cirurgia. As cenas entre pai e filha são entrecortadas com as da festa na boate.
A crise emocional e existencial é comum a todos que estão na festa: na verdade este é o artifício usado pela dramaturga para discutir o momento de crise pelo qual passa quem se aproxima dos 30 anos. À esta crise, junta-se o fato de que hoje os jovens cada vez mais procuram estender a adolescência. Mesmo formados e já atuantes no mercado de trabalho, continuam a morar com os pais e retardam a independência e autonomia na vida.

Fernanda Castello Branco, Julia Ianina, Lilian Damasceno, Paula Weinfeld ao lado de Thaís Medeiros e Cecília Magalhães criaram a companhia

O diretor enfatiza o lado “infantil” desta geração, tanto que o cenário da boate é um imenso quadrado cheio de bolinhas coloridas de plástico:
“Trata- se de uma geração com uma imensa força motriz, cheia de grandes ideias, mas com uma estranha propensão a se mostrar paralisada. Nossa proposta é levar ao palco esses personagens com toda alegria, irresponsabilidade, melancolia e culpa que podem carregar”, diz Lenate.
Além da sintonia dos atores em cena, Rabbit se destaca pela discussão contemporânea e um tanto corrosiva proposta pela autora, em que a plateia é obrigada a se questionar sobre suas atitudes diante do amor, do sexo, da morte e das relações com os amigos. A concepção cenográfica, assinada pelo diretor, e os elementos cênicos e figurino de Mira Haar também são destaques da montagem, justamente por complementarem o questionamento da geração atual. O trabalho de pesquisa e criação da trilha, do DJ Guab, também merece ser ressaltado.

Fotos: Alexandre Charro

 

 

 


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