Uma noite em 67

De em julho 31, 2010

Brasil em plena ditadura militar, um ano antes do AI-5 que baniu as liberdades democráticas do país, a música brasileira vivia um momento efervescente, com a chegada de jovens talentosos que provocariam uma revolução no panorama cultural brasileiro. Esse é o pano de fundo do sensível documentário Uma Noite em 67, estreia dos cineastas Renato Terra e Ricardo Calil. Detalhe: eles nem eram nascidos quando acontecia o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, o que ajuda no tom investigativo das entrevistas com os protagonistas da festa, 43 anos depois.

O filme, mais do que retratar a era dos festivais dos anos 60 — com entrevistas dos bastidores e apresentações na íntegra das canções Roda Viva com Chico Buarque e o grupo MPB4, Domingo do Parque com Gilberto Gil e Os Mutantes, a vencedora Ponteio com Edu Lobo e Marília Medalha, Alegria, Alegria com Caetano Veloso e o grupo argentino Beat Boys e Maria Carnaval e Cincas de Luiz Paraná interpretada por Roberto Carlos—, promove uma reavaliação daquele momento histórico. Personalidades como Sérgio Cabral (jurado do festival), Nelson Motta (autor de uma das finalistas defendida por Elis Regina), Zuza Homem de Melo e Chico de Assis ao lado de Gil, Chico, Caetano, Edu e Roberto Carlos reveem valores e posturas assumidas na época. É muito interessante, por exemplo, saber das posições de cada um deles com relação à passeata contra a guitarra, que ocorreu pouco antes da edição do festival.

Se os entrevistados fazem uma revisão histórica, eles também são convidados a uma autoanálise. Os diretores pedem que cada um deles avalie sua trajetória. Esse é o momento do filme que mais me emocionou: os meus, os nossos ídolos da música estão todos hoje com mais de 60 anos, na época tinham pouco mais de 20! É tocante ouvir Edu Lobo falar que aos 22 anos ele se sentia “velho, muito preocupado com o futuro da carreira”. Caetano, como bom leonino, confessa que sente saudade da agilidade e da beleza que tinha naquele tempo! E Gil é arrasador e demonstra toda a sabedoria que adquiriu com a idade ao dizer que as perdas, o querer e o não querer, os amores e os desamores, a união e a desunião o fizeram crescer. Por isso não sente saudade. Vive. “É o estado OM, que minha música se propõe.”

Um bálsamo para minha alma. O ano retratado no documentário foi um divisor de águas em minha vida. Meses depois do Festival e com oito aninhos me defrontei com a primeira perda: meu pai nos deixava com apenas 39 anos. Uma noite em 67, mais que o entretenimento, não me trouxe melancolia e tristeza, mas emoção. Reflexão e autoanálise o que o filme me provocou. Crescer é a somatória de vivências e a escrita tem me ajudado a viver. Melhor!


2 Comentários

Jose Edvardo Pereira Lima

agosto 3, 2010 @ 12:01

Resposta

Uma noite em 67, 66, 68, 73… Minhas tantas noites reveladoras e surpreendentes que embasaram minha visão – mais certo dizer visões, pois eram tantas e tão diversificas as informações e posições estéticas e culturais. Sinto-me lisonjeado por essas noites, por ter presenciado o nascimento e início de carreira do Oficina e do Arena, por ter ido aos Festivais da Record, por ter me emocionado com a Cacilda Becker arrasando em “Quem tem medo de Virginia Wolf?” e em “Esperando Godot”…

Coincidência ou não, eis que ao reavaliar papéis e documentos velhos, guardados há anos, encontro emocionado um programa da peça “O Balcão” da qual participei. Uma saudade amena bateu, mas não ofuscou o sol desse agora.

Zedu

Maurício Mellone

agosto 3, 2010 @ 15:03

Resposta

Zedu, querido!
Que delícia receber seu comentário! E vc sempre poético e repleto de informações, das mais úteis!
E que vida cultural agitada aquela dos anos 60, né? A do país e a sua em especial! rsrsrs
Como digo no post sobre o documentário, tb assisti ao festival, mas do sofá lá da casa dos
meus pais! E aquele ano foi barra, mas ficou lá atrás! “O sol do Agora” é o que nos move!
bjs e obrigado pelo incentivo!

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