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Estado de Sítio: versão de Gabriel Villela ao clássico de Albert Camus

De em novembro 15, 2018

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Elenco formado por 14 atores liderados por Elias Andreato, Claudio Fontana e Chico Carvalho

O diretor mineiro Gabriel Villela — retratado no livro Imaginai, de Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi, vencedor do Prêmio Jabuti/18, categoria Artes — volta a encenar uma peça do dramaturgo franco-argelino Albert Camus. Em 2008 dirigiu Calígula e agora está à frente da montagem de Estado de Sítio, em cartaz no Sesc Vila Mariana, uma visão alegórica e crítica do autor para as sociedades comandadas por governantes autoritários e/ou totalitários.

Numa superprodução que envolve 14 atores em cena, liderados por Elias Andreato, que vive a Peste, Claudio Fontana, que interpreta a Morte, e Chico Carvalho, o Nada, a trama é sobre a chegada da epidemia à cidade de Cádiz, na Espanha, e sobre a separação de um casal enamorado, Vitória e Diego, interpretados por Mariana Elisabetsky e Pedro Inoue, que são os únicos da cidade a se opor à tirania.

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A Peste (Andreato) e a Morte (Fontana) chegam para aterrorizar

 

Usando de muita metáfora, símbolos e alegorias (marca registrada do conhecido teatro barroco de Villela),  a montagem começa com o pausado desfile  de uma figura vestida de branco, com um guarda chuva que espalha talco pelo trajeto, representando o Cometa (Nathan Milléo Gualda). No rasto do cometa, quem chega triunfante é a Peste, com sua secretária a Morte, aterrorizando todos os moradores. Seu primeiro ato é depor os governantes e instaurar um regime totalitário, com a suspensão das liberdades individuais. Quem vê a tudo com sarcasmo e ironia é o Nada, que também tem a função de narrador.

Em contraposição à tirania, quem se rebela são os apaixonados Diego e Vitória, que tentam, de maneira corajosa, liderar uma revolta, mas são derrotados e obrigados a se separar. Como os heróis das tragédias, Diego se sacrifica para livrar a amada da morte.

 

“A riqueza dramatúrgica de Camus não se limita a um contexto histórico específico nem a um campo político delimitado, mas é um mosaico de teatralidades que nos lembra que a liberdade exige esforço coletivo e contínuo”, afirma Gabriel Villela.

 

 

Estado de Sítio, de acordo com a direção (Villela e os assistentes Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo) não é uma tragédia, mas contém muitos elementos trágicos, como a presença do coro que entoa cânticos trágicos, com músicas ciganas e canções revolucionárias, entremeados ao texto falado. Outra característica da montagem é a tonalidade: diferentemente da maioria das peças do diretor mineiro em que cores vivas e carnavalescas predominam, desta vez ele optou só pelo preto e branco, que por si só simbolizam a contraposição, o duelo do bem contra o mal. A maquiagem, as máscaras e os adereços de cabeça também estão inseridos neste conceito. Outro destaque é para a cenografia de J.C. Serroni, que introduz elementos para simbolizar a peste, o mal e a forma autoritária de governar, como gafanhotos, aranhas, arapuca para prender animais e aves e a grande nuvem, uma coroa de espinhos, que desce sobre a cidade oprimindo ainda mais as pessoas.

 

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Chico Carvalho vive personagem sarcástico

 

 

Sem dúvida um espetáculo de extrema plasticidade, que causa grande impacto. No entanto o uso excessivo metáforas e elementos místicos prejudica a compreensão da dramaturgia de Camus, já recheada de alegoria e simbologia. Entretanto, o jogo cênico envolvente, as canções e a sintonia dos atores deixam o espetáculo vibrante e contundente. Destaque para a performance de Chico Carvalho, que com uma entonação grave da voz (incomum na carreira dele), enfatiza seu personagem sarcástico e ferino. Temporada só até 16 de dezembro; programe-se!

 

 

 

 

 

Roteiro:
Estado de Sítio. Texto: Albert Camus. Tradução: Alcione Araújo e Pedro Hussak. Adaptação e figurinos: Gabriel Villela. Elenco: Elias Andreato, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Arthur Faustino, Cacá Toledo, Daniel Mazzarolo, Kauê Persona, Marco França, Mariana Elisabetsky, Nathan Milléo Gualda, Pedro Inoue, Rogério Romera, Rosana Stavis e Zé Gui Bueno. Cenografia: J C Serroni Iluminação: Domingos Quintiliano. Direção musical: Babaya e Marco França. Diretores assistentes: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo. Fotografia: João Caldas Fº. Produção executiva: Luiz Alex Tasso. Direção de produção: Claudio Fontana.
Serviço:
Sesc Vila Mariana (608 lugares), Rua Pelotas, 141, tel.11 5080-3000. Horários: de quinta a sábado às 21h e domingo e feriados às 18h. Ingressos: R$ 40, R$ 20 e R$ 12. Bilheteria: de terça a sexta-feira, das 9h às 21h30; sábado, das 10h às 21h; domingo e feriados, das 10h às 18h30. Venda: unidades do Sesc. Duração: 90 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 16 de dezembro.

 


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