De Maurício Mellone em setembro 25, 2023
Se em 2005 o diretor espanhol Pedro Almodóvar declinou do convite de Hollywood para dirigir o longa-metragem com temática gay O Segredo de Brokeback Mountain, desta vez ele não deixou a chance escapar. Convidado por um fabricante de moda, Almodóvar escreveu e dirigiu o curta-metragem Estranha forma de vida — em cartaz no Cinema da Fundação/Porto —, que retrata a relação afetiva entre dois caubóis, o xerife Jake, interpretado pelo ator norte-americano Ethan Hawke, e o fazendeiro Silva, vivido por Pedro Pascal, ator que nasceu no Chile, mas desde pequeno vive nos EUA.
Silva viaja pelo deserto para fazer uma visita ao velho amigo e Jake, a princípio, estranha a chegada dele. Entretanto, as boas lembranças vêm à tona e os caubóis passam o dia juntos, em harmonia. Mas, na manhã seguinte Jake precisa assumir suas funções de xerife e o conflito entre eles é iminente.
O filme começa com a cavalgada de Silva pelo deserto e sua chegada à delegacia, onde Jake acaba de ser informado que uma mulher fora assassinada. Um violeiro canta e assiste a tudo. O inusitado para nós brasileiros é que a trilha sonora é com o fado de Amália Rodrigues, cujo título é o mesmo do filme, na voz de Caetano Veloso. Porém, o violeiro dubla o cantor e compositor baiano.
O roteiro mostra a relação entre Jake e Silva como se fosse um jogo de esconde esconde: há mistérios no passado dos caubóis que o espectador desconhece e o que eles viveram na realidade só é revelado aos poucos — as cenas deles na mocidade são ‘calientes’/sensuais. O que realmente aconteceu que provocou o afastamento entre os dois também é ocultado. E no presente também há omissões: Silva procura o xerife não somente para revê-lo, mas para sondar o que ele sabe sobre o assassinato em que seu filho está envolvido. Por sua vez, Jake assume as investigações do crime sem levar em consideração a participação de Silva no caso.
Difícil redigir esta resenha sem antecipar nada ou dar spolier, principalmente por se tratar de um curta-metragem de pouco mais de 30 minutos. E aqui fica minha crítica e minha frustração: como fã de Almodóvar, fiquei com um gostinho de quero mais! O diretor/roteirista lança o argumento e quando a trama parece que vai se desenvolver, tudo se acaba. A pergunta de Jake para Silva no passado (‘o que dois caubóis podem fazer da vida num rancho no meio do deserto?’) fica sem resposta. Almodóvar poderia ter respondido a esta questão!
No entanto, ao final da projeção, uma longa entrevista do diretor é exibida, em que ele fala sobre a ideia que teve para realizar o curta, conta sobre a escolha dos atores, do cenário, do figurino e até de uma provável continuação da história, como imagina o futuro daqueles personagens. Quem sabe a minha frustração possa ser diluída numa próxima produção de Pedro Almodóvar! Como um aperitivo para o filme, fique com o clipe de Estranha forma de vida, fado de Amália Rodrigues, na voz de Caetano Veloso:
Fotos: divulgação
2 Comentários
Adriana
setembro 25, 2023 @ 19:15
Almodóvar é sempre maravilhoso. E 30 minutos é pouco tempo. Que pena…Mas, de qualquer forma, não deixa de ser uma excelente sugestão. Obrigada!!
Maurício Mellone
setembro 26, 2023 @ 14:14
Adriana:
Sim, Almodóvar sempre surpreende.
Na entrevista q ele concedeu e, é exibida ao final
da projeção, ele dá pistas de como imagina o futuro
dos caubóis. Tomara q ele do curta resolva filmar um longa!
Obrigado, amiga, pelas visitas!
Beijos