De Maurício Mellone em setembro 20, 2012
Ao entrar na sala de espetáculo do Tucarena, o espectador já fica diante do clima proposto pelo diretor Fabio Assunção para a montagem da peça O Expresso do Pôr do Sol: os dois atores estão em cena, um parado e pensativo e o outro anda em passos firmes pelo palco redondo. Tensão e comportamentos opostos, esta é a tônica da peça original The Sunset Limited do norte-americano Cormac McCarthy, traduzida por Nelson Amorim e que foi adaptada por Maria Adelaide Amaral. Depois dos três sinais característicos para o início — dados pelo ator Guilherme Sant’Anna em vasos que o diretor comprou na Índia — fica-se sabendo que Black (Guilherme) acabara de salvar White (Cacá Amaral) de uma tentativa de suicídio. Mesmo contrariado, White é levado para o apartamento de Black, no subúrbio. É no reduto de Black (um ex-presidiário e atualmente um evangélico fundamentalista) que o embate filosófico, religioso e moral vai de desenvolver: White é um professor ateu, que vê na morte o único caminho possível para a sua vida, o que fará com que Black tente por todos os meios convencê-lo do contrário.
Dois elementos contribuem para o fluxo narrativo de choque de ideias: primeiro o cenário (assinado por Fábio Namatame, responsável também pelo figurino), de poucos elementos e constituído na base por dormentes de linhas férreas, que intensificam a tensão entre os personagens. O apartamento é outro destaque: é representado por uma caixa de metal em miniatura, pendurada por correntes. A claustrofobia fica evidente.
O segundo elemento é a iluminação de Caetano Vilela, que funciona como um personagem, tamanha a importância que traz ao espetáculo; focos poderosos cruzam toda a extensão do palco de arena, enfatizando o duelo verbal e filosófico de Black e White e a oposição entre luz e sombra.
Há na peça momentos para os dois personagens defenderem suas teses diante da vida. Primeiro Black se expõe e, na sua tentativa de demover o outro, mostra como transformou sua vida por meio da religião e aponta perspectivas ao oponente. Por sua vez, White ouve a princípio, mas depois contesta-o veementemente com argumentos fortes e definitivos.
Encontrei na montagem um embate precioso entre a luz e a sombra, dois elementos tão presentes e conflituosos no homem moderno. Aquilo que mostramos e aquilo que escondemos. Não há forma definida nem conforto no duelo entre as forças que nos levam a escolher entre a vida e a morte”, argumenta Fabio Assunção.
Em 75 minutos, sem trégua, O Expresso do Pôr do Sol apresenta um duelo vital entre os personagens e o público não se desliga um só segundo, graças principalmente à extraordinária sintonia na interpretação de Cacá Amaral e Guilherme Sant’Anna. A estreia de Assunção na direção é muito bem-vinda. Não perca, o espetáculo permanece em cartaz até o final de novembro.
Fotos: João Cadas
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