De Maurício Mellone em janeiro 7, 2013
Depois do excelente A Febre do Rato, de Cláudio Assis, outro filme de Pernambuco acaba de estrear na cidade e mostra o vigor do cinema produzido no Nordeste brasileiro. O ex-crítico de cinema Kleber Mendonça Filho não só dirige O Som ao Redor, como é o responsável pelo roteiro e montagem, além de dividir o desenho de som com Simone Dourado. Num retrato de um bairro de classe média de Recife, o filme mostra de maneira sutil o cotidiano de seus moradores, como eles vivem e a mudança que ocorre na rotina de vida de cada um deles com a chegada de um grupo de seguranças particulares, contratados para minimizar a onda de violência e roubos da região.
Com elenco essencialmente de Pernambuco, a trama de O Som ao Redor se desenvolve sem grandes arroubos e as ações fluem naturalmente: o espectador é conduzido paulatinamente à vida de cada núcleo familiar. O corretor João (Gustavo Jahn) contribui para este passeio, já que é por meio de seu trabalho que vem à tona o que se passa por trás de cada residência. Os imóveis de praticamente todo o bairro pertencem ao misterioso personagem Francisco, avô de João e que é uma espécie de coronel urbano — controla tudo o que acontece na redondeza. Francisco, interpretado por W.J.Solha, é um dos primeiros que questiona a chegada dos seguranças, mas Clodoaldo (Irandhir Santos), o chefe deles, logo esclarece tudo e o serviço 24 horas de vigilância é iniciado. Bia (vivida por Maeve Jinkings) é uma dona de casa, mãe de dois filhos, que chama a atenção por odiar os cães dos vizinhos e passa toda a trama para se livrar deles.
Como o fio condutor do filme é tênue, o espectador menos atento pode estranhar a falta de ação ou nexo entre os personagens. Mas aos poucos se percebe a radiografia que é construída, tanto daquele bairro como do mundo interior de cada personagem ali retratado. E aí está a chave do roteiro: fala-se de um bairro de Recife, mas poderia se tratar de um bairro de qualquer cidade do mundo. O desfecho é surpreendente e pode deixar o espectador atônito: serão necessários alguns instantes para chegar à conclusão do que realmente aconteceu no último take.
Além do roteiro peculiar e muito bem articulado, o grande destaque de O Som ao Redor é para a sintonia entre os atores; no entanto as atuações do veterano W.J.Solha, de Maeve Jinkings e de Irandhir Santos sobressaem. Irandhir já havia me chamado muito a atenção graças à sua espetacular interpretação para o poeta vivido em A Febre do Rato.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Imad
janeiro 8, 2013 @ 19:27
Oi, Maurício! Também assisti ao filme e concordo que os atores estão muito bem. Vi o Irandhir domingo, na rua, e o cumprimentei pelo bom desempenho. Interessante o filme falar da paranóia por segurança, a que quase todos, enfim, estamos sujeitos. Filme familiar por abordar temas comuns a qualquer destino humano.
Maurício Mellone
janeiro 9, 2013 @ 14:01
Imad:
O Irandhir é fabuloso! Em A Febre do Rato é surpreendente a atuação dele!
Gostei do roteiro de O Som… e o final é inesperado (muito espectador desavisado
pode não entender).
Bjs e novamente obrigado por sua agradável presença constante por aqui!