De Maurício Mellone em agosto 7, 2013
Aos 70 anos e 40 de carreira, o dramaturgo e diretor Naum Alves de Souza acaba de estrear Operação Trem-Bala, peça inédita que, com humor ácido e non-sense, mostra os bastidores da família de um velho político que está há anos no poder. A atual mulher do político e suas três filhas fazem de tudo para se livrar do casal e aproveitam o projeto do trem-bala idealizado por ele para promover a viagem inaugural do comboio e assim interná-los no asilo. Sob direção de Naum, os quatro atores, Ana Andreatta, Fábio Espósito, Marco Antônio Pâmio e Mila Ribeiro, se dividem em diversos personagens. A peça fica em cartaz no Instituto Cultural Capobianco até o final de setembro.
Com o espaço cênico todo vazio — apenas uma maquete com um trenzinho elétrico em funcionamento, a peça começa com a apresentação dos personagens, todos interpretados somente pelos quatro atores: além do velho político, chamado por Sua Excelência (Marco Antônio Pâmio), e de sua primeira esposa, Bluma (Ana Andreatta), Filipa (Mila Ribeiro) a atual mulher do político e o arcebispo Dom Círio (Fábio Espósito) é que movimentam a trama. O casal de velhos já está senil e só anda de cadeiras de roda: em conluio, Filipa, as três filhas do primeiro casamento do político (Vitória, Inglória e Tormenta) e Dom Círio estão dilapidando o patrimônio da família e têm um plano: aproveitam que Sua Excelência lançou o projeto do trem-bala, que deve ligar Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, e promovem uma viagem inaugural. Na verdade esta inauguração é puro pretexto para que os velhos sejam internados num asilo e durante toda a peça o casal imagina estar em viagem de trem.
O autor explica que a parentada toda acha que Sua Excelência vai morrer e assim quer tirar uma lasquinha da fortuna do velho. Naum diz ainda que sua peça é uma crítica à sociedade atual:
“Quando somos jovens, não percebemos que um dia vamos envelhecer. Mostro na peça que mesmo o poderoso envelhece e fica entregue às mãos dos parentes. Hoje vemos que quando os pais envelhecem, os filhos começam a brigar pelos bens e deslocam os pais de suas casas. O asilo começa a bater a porta deles. É bom cuidar bem dos filhos porque eles é que vão escolher o asilo onde os pais vão mofar”, ironiza o dramaturgo.
Num espaço cênico de apenas 40 lugares, Operação Trem-Bala envolve o espectador, que, mesmo assistindo a uma comédia farsesca, percebe o tom corrosivo e ácido com que o autor lida com temas profundos como a velhice, o abandono, a perda de memória e a ganância humana. Destaque para os figurinos de Miko Hashimoto e, principalmente, pela unidade e sintonia da interpretação dos quatro atores.
Fotos: Paulo Cesar
4 Comentários
sergio
agosto 9, 2013 @ 10:46
Ola
Este espetaculo deve ser bem legal ne Mau? Haja parentes!
Maurício Mellone
agosto 9, 2013 @ 15:48
Bruno,
o Pâmio faz um velhinho poderoso e que é
dilapidado pela família! rsrsrs
Belo trabalho do nosso amigo, num texto corrosivo!
abr
Nanete Neves
agosto 8, 2013 @ 13:39
Um texto de revisão de vida e uma reflexão sobre o envelhecer. Tocante.
Maurício Mellone
agosto 9, 2013 @ 15:53
Nanete: tivemos a oportunidade de assistir a
estreia da peça (lado a lado) e pude verificar seu estado (assim como o meu)
de indignação com as atitudes dos familiares com os velhos patriarcas, na peça do Naum.
O autor (soube pela Fernanda Teixeira) teve problemas de saúde
e precisou andar de cadeira de rodas e até de andador… A peça foi concebida neste
momento da vida dele. Daí o tom ácido e corrosivo com que ele trata da velhice (como as pessoas
lidam com seus velhinhos…)
Para refletirmos!
Obrigado pela visita e colaboração aqui!
bjs