De Maurício Mellone em novembro 27, 2014
Representante da Argentina a disputar o Oscar 2015 de filme estrangeiro, Relatos Selvagens do diretor Damián Szifron provoca um misto de reações do espectador — do riso ao choro, da empatia ao distanciamento — com as seis histórias interligadas por atitudes de violência e vingança. O público se manifesta durante a exibição por que, diante de situações do cotidiano (às vezes comuns e outras vezes absurdas), os personagens reagem de forma insana, colocando para fora seus instintos mais violentos e cruéis. A apresentação inicial com animais selvagens, depois da primeira e curta história, é uma associação aos impulsos animalescos que os personagens assumem. E que cada um de nós pode adotar no dia a dia!
A primeira história (Pasternak) tem início dentro do avião, com a modelo, vivida por Nancy Dupláa, iniciando um diálogo com o crítico musical (Darío Grandinetti); logo percebem que ambos conhecem um rapaz, que fora namorado dela e candidato a uma vaga de músico num concurso em que o crítico o desqualificou. Mas as coincidências não param: todos que estão no voo têm uma ligação negativa com Pasternak, que está no comando da aeronave e vai se vingar de todos ao mesmo tempo.
Em Las Ratas, a trama se passa num restaurante de beira de estrada: um corretor imobiliário (Cesar Bordon) que pretende se candidatar a um cargo público entra e é servido pela garçonete (Julieta Zylberberg); ela o reconhece como o responsável pela ruína de sua família e a cozinheira (Rita Cortese) sugere colocar veneno de rato no prato do freguês. Na outra trama, El Más Fuerte, há uma disputa numa autoestrada em que um executivo (Leonardo Sbaraglia) em sua BMW cruza com um grandalhão num carro caindo aos pedaços. O duelo entre eles vai do banal e tolo ao mais cruel e vingativo desfecho.
A quarta história (Bombita) é estrelada por Ricardo Darín, um engenheiro especializado em explosivos: depois de um dia cheio, ele se vê envolvido numa série de empecilhos: tem o carro guinchado, se atrasa para o aniversário da filha, tem uma briga definitiva com a mulher e em seguida é demitido. Sua indignação com o Estado corrupto e burocrático é resolvida de forma vingativa e explosiva, literalmente.
Em La Propuesta, um milionário (Oscar Martínez) tenta acobertar o filho que atropelou uma mulher grávida, que morre, fazendo uma proposta ao jardineiro (Ricardo Truppel) para que assuma o crime. O suborno envolve ainda os policiais e o advogado (Osmar Núñez). Qual dos crimes é mais hediondo e perverso?
Por último, em Hasta que La Muerte nos Separe, em plena cerimônia de casamento a noiva (Erica Rivas) descobre que o noivo (Diego Gentile) convidou a amante para a festa, o que acarreta uma infinidade de atitudes de vingança, traições, violência e sexo animal.
O riso de algumas situações patéticas é substituído por um constrangimento: Szifron em Relatos Selvagens (que tem entre os produtores os irmãos Agustín e Pedro Almodóvar) faz uma crítica ácida e mordaz ao procedimento social de nossos dias. A sociedade (O Homem) está doente? Até que ponto chega a violência e a insanidade humanas? São questionamentos que me invadiram logo após a exibição do filme e que deixo para sua reflexão.
Mais uma prova que o cinema produzido na Argentina é da mais alta qualidade e competência.
Fotos: divulgação
6 Comentários
marcelo bonecker
janeiro 13, 2015 @ 22:01
eu tinha ido para o filme tranquilo e leve… nao sabia do que se tratava… nao tinha lido sinopse .. nada!!! sai agitado… kkk. sem duvida ummotimo filme argentino.. e acho que concorrente ao oscar, nao eh mesmo???
Maurício Mellone
janeiro 15, 2015 @ 10:32
Marcelo,
Entendo o seu estado ao sair do filme, esta a intenção do
diretor, né? Mexer com o espectador, fazer com que ele
reflita sobre o seu cotidiano (falo na resenha q
qq um de nós pode ter uma daquelas atitudes insanas!)
bjs e obrigado pela visita!
marcelo bonecker
janeiro 18, 2015 @ 18:34
concorrente ao oscar… tem chances, nao eh mesmo? apesar de que eu ainda nao vi os outros indicados na mesma categoria!!!
Maurício Mellone
janeiro 20, 2015 @ 16:09
Marcelo,
as chances do filme argentino são grandes mesmo!
Toda a nossa torcida!
bjs e obrigado pela visita!
Flavio
novembro 27, 2014 @ 19:48
Mauricio,
como prometi, eu iria dizer minha avaliação !Acho que levo a vida sempre muito a serio, e não relaxei em nenhum momento durante a exibição da trama, que me angustiou , apesar de me identificar com algumas situações, não que me julgasse capaz de reagir daquelas maneiras dos protagonistas… Mas indignação, sensação de injustiçado, traído, enganado e humilhado…
Enfim, uma grande produção , mas que me fez varias vezes desejar levantar e sair da sala ….
Maurício Mellone
novembro 28, 2014 @ 09:18
Flávio,
esta é a intenção do diretor,
que assina o roteiro também, a de provocar indignação
e identificação do espectador com as situações da trama.
Há o humor (negro) e cenas patéticas dignas de muito riso,
mas o objetivo é até chocar para que se reflita sobre o
comportamento humano nos dias de hoje.
Obrigado por sua visita,
bjs