De em janeiro 24, 2011
Primeira direção da atriz Mika Lins, a peça Dueto para um, do inglês Tom Kempinski, voltou ao Tucarena e permanece em cartaz até o dia 27 de fevereiro. E o sucesso é mais do que merecido: Bel Kowarick, graças a sua interpretação da violinista que é obrigada a abandonar a carreira por ser portadora de esclerose múltipla, recebeu o prêmio APCA/2010 de melhor atriz.
A peça inicia com a primeira sessão de análise de Stephanie Abrahams com o renomado psiquiatra Dr. Feldman, vivido por Marcos Suchara. Serão seis encontros entre eles, em que o público vai se inteirando da doença da musicista, do processo terapêutico e, principalmente, do embate que se estabelece entre médico e paciente. Stephanie passa por diversos processos internos, desde a euforia com planos novos como professora, a negação de sua depressão, a tomada de consciência do real estágio da doença, a fuga total com sua ausência das terapias até o reconhecimento de que o psiquiatra só deseja auxiliá-la a vislumbrar nova perspectiva de vida.
O enredo é baseado na história real da violoncelista inglesa Jacqueline du Pré, casada com o pianista e maestro Daniel Baremboim, que aos 28 anos foi obrigada a deixar a carreira em virtude de portar esclerose múltipla, uma doença neurológica crônica degenerativa, que provoca fraqueza muscular, rigidez e dores articulares, além de descoordenação motora. Tudo o que inviabiliza a carreira de um músico.
O texto de Kempinski não dá trégua ao público e a tensão é progressiva. O cenário de Cassio Brasil (o palco gira em consonância com o embate vivido pelos personagens), a música de Marcelo Pellegrini e a iluminação de Caetano Vilela só intensificam esse tom reflexivo e questionador proposto pelo autor.
Mais do que discutir as consequências da doença, a peça questiona a perda e como as pessoas podem reagir quando o horizonte parece ter desaparecido de suas vistas! A violista, numa das sessões, diz ao terapeuta que seu mundo é a música: ela não é o seu ganha-pão, mas sua vida!
Quantas vezes eu não me senti exatamente como a personagem, com a sensação de que (parte) da minha história de vida tinha se esvaído com a perda do meu amor!
No entanto, o alento e a esperança vêm com a última frase proferida pelo médico, logo após a paciente reafirmar que deixaria o tratamento: “Semana que vem, na mesma hora!”. Fica nítida a intenção terapêutica, tanto para a paciente como para toda a platéia: a luta pela vida não tem fim!
Fotos: Caio Guatelli.
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