Livro: Essa Gente de Chico Buarque, foto 1

Essa Gente: livro de Chico Buarque retrata sociedade brasileira atual

De em abril 9, 2020

Livro: Essa Gente de Chico Buarque, foto 1

O escritor, dramaturgo e compositor Chico Buarque

 

 

 

 

“Sol, a culpa deve ser do sol/
Que bate na moleira, o sol”
(
As Caravanas)

 

Em tempos de isolamento e quarentena — com as produções teatral e cinematográfica interrompidas —, a literatura passou a ser minha maior companheira. Venho lendo bastante e assim estou diminuindo a lista de obras que já deveriam ter sido lidas. É o caso do mais recente romance de Chico Buarque, Essa Gente, um lançamento da Companhia das Letras.
Vencedor do Prêmio Camões de Literatura/19 pelo conjunto de sua obra, Chico Buarque é mundialmente conhecido por sua carreira como poeta e compositor musical; no entanto é autor de peças teatrais e de seis romances, dentre eles Estorvo/1991, Budapeste/2003 e O irmão alemão/2014.

 

Se na música popular Chico se revela um cronista de seu tempo, na literatura ele até então se distanciava da realidade nua e crua das ruas. Entretanto, em Essa Gente o autor faz um painel da sociedade brasileira contemporânea por meio da trajetória de vida do personagem central, o escritor Manuel Duarte. O romance é atrelado ao agora ao retratar o cotidiano do escritor carioca decadente; a história é contada por capítulos de um diário, num intervalo que varia de dezembro de 2016 a setembro de 2019.

Livro: Essa Gente de Chico Buarque, foto 2

O autor venceu em 2019 o Prêmio Camões de Literatura

 

 

 

 

O universo retratado no livro — o fosso social que separa as pessoas do país — é o mesmo denunciado na canção As Caravanas. Mas no romance o leitor é obrigado a juntar as peças como num grande quebra-cabeça, já que o foco central da trama é a trajetória do personagem, que mantém um distanciamento destas mazelas sociais. Ele não expressa qualquer tipo de indignação diante da violência policial, da humilhação a porteiros, do espancamento ao mendigo por um sócio do Country Club e muito menos diante do fanatismo religioso, do racismo e da ganância e arrogância da elite e dos poderosos.

 

 

 

Depois do sucesso profissional, com mais de onze livros publicados, inclusive o best-seller O Eunuco do Paço Real, Manuel Duarte está na pindaíba e vive à cata de alternativas para ganhar dinheiro. A vida afetiva também é instável, já que vive entre suas ex-mulheres, Maria Clara, a tradutora e mãe de seu único filho, e Rosane, a decoradora e alpinista social. Além das ex e das infindáveis prostitutas, Duarte também se envolve com a holandesa Rebekka, esposa de Agenor, o salva-vidas que o socorreu num de seus devaneios no mar.

 

 

 

 

Como a história é contada por pequenos capítulos e de forma cronológica, o leitor logo se vê preso à narrativa, que flui livremente; só ao final se dá conta que está diante de um enredo policial. Sérgio Rodrigues comenta na orelha do livro que Essa Gente numa primeira leitura pode ser visto como uma comédia de costumes “tão divertida quanto cruel”. Mas há surpresas:

 

 

“Terminada a leitura, o livro nos intima a virá-lo do avesso, transformando fundo em forma e desviando os olhos da história para a História. Pensando bem, essa gente somos todos nós”, arremata Rodrigues.

 

Com uma escrita ágil, que mistura realidade e sonho, Chico Buarque nos presenteia com uma obra dentro de outra obra: o livro é o relato da vida do escritor Manuel Duarte, que está ao mesmo tempo escrevendo um novo romance que espera ser sua redenção. História instigante e que provoca o leitor a refletir sobre nossa realidade, tão bem retratada na canção As Caravanas.

 

 

 


Livro: Essa-Gente de Chico Buarque, foto 3

 


Ficha técnica
:
Titulo: Essa Gente
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Página: 200
Preço: R$ 35,90

 

 

 

Fotos: divulgação

 

 

 

 

 


3 Comentários

Antoune Nakkhle

abril 10, 2020 @ 21:30

Resposta

Deu vontade de ler! Parabéns pela resenha, poste mais sobre livros.

Abraços,

Dinah Sales de Oliveira

abril 9, 2020 @ 11:30

Resposta

Maurício.
Adorei sua resenha como adoro o nosso Chico Buarque, seja na música, seja na literatura!!!
E bacana você ter linkado com a música!
Estou aceitando escambo: troco valter hugo mãe por Chico. hahahahaha

beijo.

Maurício Mellone

abril 9, 2020 @ 12:19

Resposta

Dinah, querida:
fico muito feliz q tenha gostado. Depois de ler, vc vai
perceber como As Caravanas ‘conversa’ com Essa Gente.
Já aceitei o escambo (pena q o isolamento obrigue a ficarmos longe, só fisicamente!)
Beijos e obrigado por sua presença sempre constante aqui no Favo e, principalmente,
na minha vida!

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