Solitária: livro de Eliana Alves Cruz critica o trabalho doméstico

De em agosto 30, 2022

Eliana Alves Cruz nasceu no Rio de Janeiro e é autora de outros três livros

 

 

Num momento em que as mulheres lutam por seus direitos de igualdade na sociedade e que o racismo estrutural é denunciado ferozmente, o livro de Eliana Alves Cruz, Solitária, lançado pela Companhia das Letras, é imprescindível.

 

 

O enredo revela o cotidiano de duas mulheres negras, Eunice e Mabel, mãe e filha, que vivem num quartinho de empregada de um luxuoso apartamento de uma grande cidade. É por meio do olhar, tanto da menina como da mãe, que a escritora, natural do Rio de Janeiro, escancara uma realidade tão conhecida dos brasileiros: um sistema de trabalho doméstico que até hoje, em pelo século XXI, guarda vestígios do modelo escravocrata. No entanto, Mabel e Cacau, filho do porteiro Jurandir, conseguem romper este círculo vicioso, entram para a faculdade e se tornam profissionais bem sucedidos. Mas o modo de vida daquele edifício quase não se modifica e Eunice testemunha um crime, que irá modificar o destino de todos.

 

 

 

O romance é dividido em três partes: na primeira quem conduz a narrativa é Mabel, na segunda a narradora é Eunice e a terceira parte, com o título de Solitárias, a escritora de maneira criativa coloca quartos como narradores; assim o quarto de empregada, o do porteiro, o do hospital e o de descanso trazem o desfecho da história.

 

 

Eliana lançou em 2020 ‘Nada digo de ti, que em ti não veja’

 

 

 

Em capítulos curtos e com uma linguagem direta, ágil e sem rodeios, Eliana Alves Cruz envolve o leitor. O crime é citado logo nas primeiras páginas, mas o leitor só terá condições de se inteirar de tudo o que aconteceu no apartamento do casal Lúcia e Tiago e da filha Camila (patrões de Eunice) com o desenrolar da trama, que é narrado pelo olhar das duas mulheres que moram confinadas naquele quartinho do requintado apartamento, do luxuoso condomínio Golden Plate.

 

 

 

Além do trabalho das duas mulheres (Mabel mesmo criança é obrigada a ajudar a mãe nos afazeres da casa dos patrões), a obra também abrange o trabalho doméstico de outros profissionais ligados àquele universo, como o do porteiro Jurandir que mora em outro quartinho abafado na garagem do edifício com os filhos menores (Cacau e João Pedro), a cuidadora de um general aposentado e outras babás e diaristas.

 

 

 

 

 

 

Mais do que elucidar o crime ocorrido nas dependências do condomínio — inspirado em caso verídico ocorrido no Recife em 2020, em que um garoto morreu ao cair de uma altura de 35 metros por imprudência da patroa da mãe do menino —, a autora procura demonstrar a evolução e o rumo que as personagens centrais deram para suas vidas. Se por um lado Mabel perdeu parte da adolescência ao engravidar, soube dar nova direção à vida por meio dos estudos e de sua formação como médica. Já Eunice manteve por longo tempo o emprego naquelas condições desfavoráveis com a intenção de ajudar a filha a mudar o destino da família. Jurandir e os filhos também modificaram suas realidades. Entretanto, os patrões mantiveram o statu quo, ou seja, lutam para deixar a situação da mesma forma e manter o ‘mundinho’ particular inalterado. Ou até pior, pois desejam ocultar a responsabilidade da filha pelo crime. Na orelha do livro há um texto que sintetiza a obra:

 

 

Solitária dá provas de quão incontornável se tornou reelaborar não apenas a história, mas as sobrevidas da escravidão colonial. É uma obra que testemunha uma crucial mudança de sensibilidade no espírito de nosso tempo. Um romance de libertação.”

 

 

 

 

 

 

 

Ficha técnica:
Título: Solitária
Autor: Eliana Alves Cruz
Editora: Companhia das Letras
Página: 168
Preço: R$ 54,90

 

 

 

Fotos: divulgação


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