Exilados de James Joyce mostra um triângulo amoroso de 100 anos atrás

De em setembro 17, 2012

Álamo Facó e Franciely Freduzeski interpretam Robert e Bertha, que em 1912 vivem um romance, sendo que ela é casada

Num momento em que o modelo tradicional de amor romântico está sendo cada vez mais questionado e posto em cheque, Exilados — que acabou de estrear no Teatro Nair Bello — chega em boa hora. O inusitado é que esta peça do escritor irlandês James Joyce foi escrita em 1918 e a ação se passa seis anos antes, portanto há exatamente 100 anos! E a discussão central do texto é extremamente atual: o casal Richard Rowan e Bertha, interpretados por André Garolli, Franciely Freduzeski, volta a Dublin depois de um período de exílio e retoma contato com o jornalista Robert Hand, vivido por Álamo Facó. Muito próximo de Richard, Robert tem verdadeiro fascínio pela bela esposa do amigo e entra em conflito interno, pois não sabe se dá vazão aos desejos ou se cumpre as convenções sociais do início do século XX. Já o escritor Richard é contra a possessividade entre as pessoas e mantém uma relação aberta e de total liberdade com Bertha, uma mulher de personalidade forte que chega a contestar os ideais defendidos pelo marido.
Com apenas algumas cadeiras de madeira, o cenário despojado —assinado por Marcos Flaksman— é ideal para a proposta do diretor Ruy Guerra de enfatizar o duelo de ideias e sentimentos dos personagens. As cenas são sempre em dupla: os dois amigos, o casal ou o jornalista e Bertha, os amantes. Há ainda a personagem de Cristina Flores, Beatrice, prima de Robert com quem na infância foram prometidos um para o outro; hoje ela é professora de música do filho do casal e nutre forte admiração por Richard, que mantém por ela um amor platônico, concretizado em sua obra literária. Bertha e Beatrice têm uma velada relação de ciúme e rivalidade.

Beatrice (Cristina Flores) e Bertha (Franciely) mantêm uma velada relação de ciúme e rivalidade

Outro elemento que contribui para o contraponto entre os personagens em cena é a iluminação de Maneco Quinderé: os focos de luz são colocados estrategicamente em cruz, reafirmando assim a oposição entre os personagens.

“A peça tem um tema instigante e provocador. É um jogo de sentimentos e ideias. As relações são falsas e os sentimentos verdadeiros e profundos. Todos são mentirosos e manipuladores. O público sai sem saber a verdade. O espetáculo relata também as preocupações dos protagonistas com o ciúme e a traição no amor e na amizade”, explica o diretor.

 

O texto escrito em 1918 tem inúmeras traduções e de acordo com o diretor a peça era muito longa, foi preciso fazer alguns cortes. Mesmo assim, por ser construída em embates diretos entre dois atores em cada cena, cheguei a sentir um pouco de cansaço. Mas é empolgante ouvir um personagem do início do século XX defender a relação aberta entre marido e mulher ou combater a possessividade e a submissão feminina no casamento. Vale a pena conferir e não perca tempo, a peça fica em cartaz somente até o início de outubro.

Fotos: Simone Kontraluz


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