O arroz de Palma: livro de Francisco Azevedo ganha edição comemorativa

De em fevereiro 7, 2022

Romance de estreia de Francisco Azevedo: livro foi editado em 12 países

 

Geralmente minhas resenhas literárias são com lançamentos de livros ou sobre obras que há pouco chegaram ao mercado. O objetivo é o de justamente oferecer uma visão particular sobre aquela criação literária e assim incentivar o público a se debruçar sobre as histórias contadas.

 

No entanto, com O arroz de Palma, do escritor, dramaturgo e roteirista carioca Francisco Azevedo, tudo foi diferente. Recebi a dica de uma amiga jornalista, Adriana Bifulco, e sem saber da carreira de sucesso do autor (ignorância pura da minha parte) e muito menos do êxito do livro no Brasil e no mundo — mais de 50 mil exemplares vendidos aqui e editado em 12 países —, só em janeiro último iniciei a leitura. E a surpresa foi desde o início: me encantei com as histórias contadas por Antonio, narrador e personagem central, e em questão de dias cheguei ao final, emocionado!

 

Por tudo isto não podia deixar de postar aqui no Favo minha impressão sobre esta obra prima, que ganhou em 2021 edição comemorativa da Editora Record .

 

 

 

Minha admiração por Francisco Azevedo começou ao ler o posfácio (li antes da história e reli ao final): ele tem uma definição sobre o escritor e sobre a criação literária que já nos remete ao universo mágico de sua obra:

 

 

Além de 2 romances, Azevedo é dramaturgo e roteirista

 

“Às vezes chego a pensar que o escritor nada mais é que o traço de união entre o leitor e seres imateriais que habitam mundos paralelos. Tenho a impressão de que não sou o criador de coisa alguma, mas o primeiro leitor-ouvinte das histórias que me vão sendo contadas interiormente pelos personagens que me visitam.”

 

 

 

 

E já nas primeiras páginas o leitor é chamado a ser cúmplice do enredo a ser desvendado: agora não pelo Francisco, mas por Antonio, o narrador, personagem central e alter ego do autor:

 

“Confio em você, que agora me faz companhia e me lê os pensamentos…
É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio até aqui me fazer companhia. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e a cebola.”

 

 

Por este chamamento, quase uma intimação, que o leitor é fisgado para dentro da história deste homem de 88 anos (“dois infinitos verticais”), que está na cozinha preparando o almoço para toda a família, que não se reúne há tempos, em comemoração aos 100 anos de casamento de Maria Romana e José Custódio, pais de Antonio.

 

Antonio, cozinheiro de mão cheia (aprendeu tudo o que sabe, de culinária e da VIDA, com sua tia Palma), geralmente divaga e facilmente se desprende da realidade, misturando-se aos sonhos e fantasias. Desta maneira poética e sempre na primeira pessoa e no presente do indicativo é que a saga de uma família humilde, imigrante de Portugal, é apresentada ao leitor. Sem se ater a uma rígida ordem cronológica, Antonio vai relatando sua história pessoal e de sua família.

 

Com ideias claras, frases curtas e em pequenos capítulos, o autor, por meio da saga familiar de Antonio, traça um painel das mudanças sociais e culturais ocorridas no Brasil, de 1908 a 2008. Outra característica da escrita do autor que chama a atenção é a pontuação como elemento de intelecção, compreensão. Além das vírgulas que conduzem o ritmo narrativo, o ponto de interrogação mostra dúvida, mas também serve como isca para trazer o leitor/cúmplice de volta ao enredo:

 

“Me tornei um homem menos egoísta, mais equilibrado emocionalmente. Por quê? Ora, por quê? Meus filhos me mudaram.”

 

A magia, a fantasia, o sonho e uma pitada de realismo fantástico (real e imaginário se unem, gerando um todo harmônico) são outros ingredientes usados pelo autor no “cozimento” desta história. E um pensamento citado várias vezes — ‘Família é um prato difícil de preparar”— também faz com que o leitor se envolva na história: impossível não se identificar com aqueles personagens tão reais e tão parecidos com os nossos familiares. Impossível também não se emocionar e vir às lagrimas. Mas aí deixo para o próprio Antonio encerrar minha resenha:

 

 

“Não se envergonhe se chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.”

 

 

 

 

 

Ficha técnica:
Titulo: O arroz de Palma
Autor: Francisco Azevedo
Editora: Record, 364 pág
Preço: R$ 61,60

 

 

 

 

Fotos: divulgação


4 Comentários

Adriana Bifulco

fevereiro 7, 2022 @ 19:08

Resposta

Que resenha maravilhosa, querido! É um convite à leitura do trabalho primoroso do Francisco Azevedo. A arte nos salva, sempre!! ❤️

Maurício Mellone

fevereiro 7, 2022 @ 19:16

Resposta

Adriana, querida:
que ótimo q vc gostou do q escrevi sobre uma obra lançada há tempos (2008)
Sua indicação foi perfeita: autor e obra são maravilhosos!
Beijos

Dinah Sales de Oliveira

fevereiro 7, 2022 @ 18:51

Resposta

Maurício,
Que bacana, não conhecia nem autor nem livro – assim como você!
Fiquei bem curiosa e vou procurar meu exemplar por aí.
Gostei da resenha e do tira-gosto apontado no seu texto.

bjs,
Dinah

Maurício Mellone

fevereiro 7, 2022 @ 19:19

Resposta

Dinah:
são tantos lançamentos q a gente se perde!
Um achado! Devo à Adriana Bifulco a indicação.
Vou ler logo o segundo romance dele, Doce Gabito.
Um beijo grande, tomara q vc tb lamba os beijos com o arroz
de Palma, do Francisco Azevedo!
Beijos

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