De Maurício Mellone em maio 8, 2014
Depois de ter participado da mostra competitiva do Festival de Berlim, Praia do Futuro, quinto longa-metragem de Karim Aïnouz, estreia nacionalmente no próximo dia 15 de maio. Tive o privilégio de assistir ao filme na concorrida pré-estreia desta semana em São Paulo. Com a presença do diretor e dos três atores centrais — os brasileiros Wagner Moura e Jesuíta Barbosa e o alemão Clemens Schic, que têm atuações brilhantes — o filme foi exibido em cinco salas do Cinemark do Shopping Igatemi.
Num ritmo ágil e com uma trilha sonora envolvente, a trama fisga o espectador desde a cena inicial, com dois motociclistas correndo pelas areias da Praia do Futuro, em Fortaleza, e depois se aventurando pelo mar. Sem conhecer o local, eles são surpreendidos com ondas muito fortes e têm dificuldades para sair; um salva-vidas entra em ação, mas só um deles sobrevive. Este é o prólogo do filme: a luta pela sobrevivência é o que move todo o desenrolar da trama.
Depois do salvamento traumático, Donato, o salva-vidas vivido por Wagner Moura, se vê na obrigação de comunicar o motociclista Konrad (Clemens Schic) que seu amigo morreu. O trauma é vivido por ambos: o alemão por perder seu sócio da oficina de motos em Berlim e Donato por ter de se defrontar com a primeira falha em sua carreira. A dor os aproxima muito e a atração física é inevitável entre eles.
Paralelamente, Ayrton (Sávio Ramos) irmão caçula de Donato, tem uma relação de idolatria com ele e é o que mais sofre quando o salva-vidas resolve partir com Konrad para a Alemanha, deixando tudo para trás. A história, escrita por Felipe Bragança e pelo diretor, muda radicalmente de paisagem: da paradisíaca e ensolarada praia cearense, Donato passa a viver na cosmopolita Berlim, longe do mar, e de inverno rigoroso. As novidades e a relação com o motociclista alemão não conseguem suplantar em Donato seu banzo, sua tristeza e a saudade do Brasil e da família.
Corte e avanço no tempo: Ayrton, agora adulto e interpretado por Jesuíta Barbosa, entra em cena e está em Berlim para saber o porquê do sumiço do irmão mais velho. Com desenvoltura e dominando o novo idioma, Ayrton tem um embate vigoroso ao encontrar Donato, pois não se conforma de ter sido abandonado por seu herói. A relação deles precisa ser reconstruída e quem promove a reconciliação é Konrad.
Com poucas palavras e esparsos diálogos, a história precisa ser compreendida pelas ações dos personagens. Mais do que assumir sua homossexualidade (no Brasil o salva-vidas mantinha em segredo sua sexualidade), Donato na Alemanha dá novo sentido à vida, se reencontra. As cenas finais com os três andando de motos e a voz em off de Donato elucidam a trama:
“Escrevo para dizer que não morri, só voltei para casa.”
Diretor de Madame Satã, O céu de Suely, Viajo porque preciso, volto porque te amo (em parceria com Marcelo Gomes) e Abismo prateado, Karim Aïnouz com Praia do Futuro revela seu amadurecimento e evolução criativa. O filme atrai o espectador, que precisa ficar atento até os últimos takes para desvendar os mistérios que envolvem o imaginário daqueles personagens. Quais os medos, desafios e interrogações que motivam Donato, Konrad e Ayrton? Não são as nossas próprias indagações diante da vida?
Ficou interessado? Assista ao trailer e não perca esta nova produção do diretor cearense, que entra em cartaz semana que vem.
Fotos: divulgação
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