Peça: À Beira do Abismo me Cresceram Asas, foto 1

À Beira do Abismo me Cresceram Asas: olhar terno e profundo para a velhice

De em junho 27, 2013

Peça: À Beira do Abismo me Cresceram Asas, foto 1

Maitê Proença e Clarisse Derzié Luz dão vida às velhinhas Terezinha e Valdina, que moram no asilo

Depois de viajar pelo país, a peça À Beira do Abismo me Cresceram Asas chegou à cidade e permanece em cartaz no Teatro FAAP até agosto. O espetáculo tem assinatura da atriz Maitê Proença: a partir da pesquisa de Fernando Duarte, ela escreveu a peça e dirige em parceria com Clarice Niskier, além de atuar ao lado de Clarisse Derzié Luz. O enredo traz duas velhinhas viúvas, de temperamentos completamente diferentes, que se conheceram no asilo e viraram grandes e inseparáveis amigas. Terezinha, vivida por Maitê, tem 86 anos e é um tanto aborrecida por ter de morar no asilo, já que tem três filhos, que nunca a visitam; já Valdina, de 80 anos, papel de Clarisse, é alegre, otimista e só pensa no presente (na verdade, recusa-se a lembrar do passado). Elas se completam e, em suas conversas diárias, refletem sobre o tempo, amizade, sexo, amor e sobre as delícias de viver. E como têm grande experiência, questionam o sentido da vida e da morte.
O público ao entrar na sala já é envolvido no clima do espetáculo: as duas atrizes já estão em cena, cada uma de um lado do palco, terminando a maquiagem e arrumando o figurino. E como som ambiente, músicas do cancioneiro nacional que são tocadas no asilo e que dizem respeito ao universo das duas velhinhas.
A diretora, no programa da peça, conta que elas receberam a orientação e supervisão de Amir Haddad para a composição das personagens:

 

“Ele nos indicou que não fizéssemos composição de velhas, mas que pensássemos no arquétipo feminino delas. Envelhecer não é se fechar, é sobre isso a nossa peça”, afirma Clarice Niskier.

 

Já Maitê tem uma definição muito clara sobre Terezinha e Valdina:

“Nossas velhas são porretas, contam histórias, falam de tudo sem medir palavras. São inteligentes, perspicazes e muito amigas. Valdina é uma mistura de Dercy Gonçalves e Ivete Sangalo e a Terezinha é uma Laura Cardoso. São complementares e juntas podem tudo!”.

Peça: À Beira do Abismo me Cresceram Asas, fot  2

A personagem de Clarisse é alegre e otimista e a de Maitê não se conforma por ter sido abandonada pelos filhos

Além das conversas entre as duas amigas, outro recurso utilizado no texto é uma entrevista que Terezinha concede a um repórter imaginário, que pode muito bem ser a própria plateia. Como um monólogo, a personagem discorre sobre sua experiência de vida e diz que não se vê só como uma velha, mas que dentro dela convive a criança que tinha sonhos, a adolescente enamorada, a mulher casada e mãe de filhos, além da avó dos dias atuais. Este recorte da peça me deixou muito emocionado.
O cenário simples e extremamente prático (assinado por Cristina Novaes) é um dos destaques de À Beira do Abismo me Cresceram Asas, que tem como ponto alto a interpretação sensível e generosa de Maitê e Clarisse. A entrega total das duas atrizes para as personagens emociona e envolve o público. Este espetáculo me remeteu a outro de grande sucesso e impacto, Uma Relação Tão Delicada, de Maria Adelaide Amaral, com Irene Ravache e Regina Braga, em que a velhice também era tratada com delicadeza e profundidade.
Imperdível, principalmente para mamães e vovós de todas as idades!

Fotos: Renata Dillon


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