De Maurício Mellone em novembro 25, 2016
Escolhido pelo público do Festival de Gramado deste ano como melhor filme, além do kikito de melhor atriz para Andréia Horta, Elis, do diretor Hugo Prata, é um registro dos principais momentos da vida e da carreira da cantora gaúcha Elis Regina Carvalho Costa, desde sua chegada ao Rio de Janeiro em 1964, no fatídico ano do golpe militar, passando pelos altos e baixos da carreira até sua inesperada e precoce morte em 1982.
Depois de ter percorrido os festivais, o filme acaba de estrear em todo o país e uma coisa é certa: os fãs daquela que é considerada uma das maiores cantoras de todos os tempos sairão do cinema emocionados, não só por terem assistido um breve resumo da trajetória da Pimentinha, como pela chance de ouvir e assistir a performance da artista interpretando alguns de seus grandes sucessos (como Arrastão,Upa Neguinho, Como nossos pais, Fascinação, Velha roupa colorida e o Bêbado e o equilibrista). O diretor quis que Andréia Horta dublasse Elis e assim as apresentações no palco, nos estúdios e nos programas de TV são reproduzidas na tela com um rigor de detalhes impressionante; Andréia refaz todos os trejeitos, a movimentação característica dos braços e a interpretação marcante da cantora. Emoção pura!
A grande dificuldade de toda cinebiografia é conseguir agrupar os mais importantes acontecimentos da vida do homenageado num único filme, em tão pouco tempo. E Hugo Prata, que assina o roteiro ao lado de Vera Egito e Luiz Bolognesi, conseguiu em 115 minutos fazer um recorte da trajetória de Elis Regina e mostrar um resumo dos últimos 18 anos de sua vida. Claro que falta muita coisa, há omissões ou alguns fatos que recebem menos destaque. No entanto, a trama mostra a chegada dela ao Rio ao lado de Romeu, seu pai, interpretado por Zecarlos Machado, os primeiros testes, sua primeira contratação na boate dirigida por Luiz Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, vividos por Lúcio Mauro Filho e Gustavo Machado, sua forte ligação com o bailarino Lennie Dale (Júlio Andrade em emocionante atuação) e seu primeiro sucesso ao vencer o Festival da Canção de 1965 com Arrastão, música de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. O casamento de Elis com Bôscoli tem grande destaque, com cenas da paixão inicial, o nascimento de João Marcelo, as brigas e a separação. A trama mostra ainda o sucesso que ela fez pela Europa, ao se apresentar no Festival de Miden em 1968 e depois no badalado Teatro Olympia de Paris. Sua passagem pela TV, ao lado de Jair Rodrigues (Ícaro Silva) no programa Fino da Bossa, a difícil relação com os militares, o grande sucesso do show Falso Brilhante — já ao lado de César Camargo Mariano (Caco Ciocler), pai de seus outros dois filhos, Pedro Mariano e Maria Rita — até suas posições contestadoras tanto com o sistema político vigente quanto com a forma truculenta de trabalho das gravadoras, suas crises existenciais e o envolvimento com álcool e drogas, que culminou com sua morte precoce, aos 36 anos. Tudo isto está no filme, mas ficaram de fora pessoas e fatos importantes também, como Tom Jobim (o álbum dos dois é um marco e nem foi citado), Milton Nascimento, Chico Buarque, Rita Lee e o irmão Rogério Costa, além de alguns de seus discos de grande sucesso. Mas a intenção do diretor foi mesmo o recorte da vida de Elis e muita coisa realmente ficou sem ser retratada.
O que precisa ser ressaltado é o desempenho de Andréia Horta, que fez um verdadeiro mergulho na vida da cantora e a retrata fielmente na tela. Impressionante! Gustavo Machado, Caco Ciocler e Júlio Andrade também emocionam com a composição de seus personagens. Um sensível e belo registro da vida da grande Elis Regina.
Como aperitivo, reveja a interpretação da cantora para Como nossos pais (Belchior):
Fotos: divulgação
4 Comentários
Bruno
novembro 29, 2016 @ 21:39
Quero muito ver este filme Mau. Obrigado pela sua crítica. Espero chegar em SP a tempo de ver no cinema.
Maurício Mellone
dezembro 1, 2016 @ 09:03
Bruno:
Uau, vc acionando o Favo aí do exterior!!!
Obrigado
Tomara q dê tempo para vc assistir quando chegar!
Boa viagem e até a volta
bjs
Dinah
novembro 25, 2016 @ 18:50
Maurício,
Como te disse, tinha lido uma crítica no Estadão e, agora, que li sua resenha, aumentou minha vontade de assistir ao filme.
Depois trocamos figurinhas sobre os intérpretes e o roteiro.
beijo,
Dinah
Maurício Mellone
novembro 28, 2016 @ 17:07
Dinah:
Vá assistir e depois comentamos.
Obrigado pela visita (constante!)
bjs