Peça: Réquiem Para Antonio, foto 1

Um Réquiem Para Antonio: embate entre Salieri e Mozart em pleno circo

De em janeiro 27, 2014

Peça: Réquiem Para Antonio, foto 1

Elias Andreato interpreta o invejoso e atormentado Antonio Salieri, em peça de Dib Carneiro Neto

A escolha para encenar Um Réquiem Para Antonio no Tucarena não poderia ter sido a mais adequada. O formato de arena do teatro caiu como uma luva na proposta do diretor Gabriel Villela de montar a peça Dib Carneiro Neto num grande circo, em que o picadeiro central é o palco dos últimos dias de vida de Antonio Salieri, que atormentado por sua interminável inveja a Mozart, procura um acerto de contas com o rival, que morreu precocemente 34 anos antes do que ele.
Salieri, interpretado por Elias Andreato, no leito de morte e de maneira delirante tem um último embate com o fantasma daquele que o atormentou durante toda a vida, o genial compositor Wolfgang Amadeus Mozart, vivido por Claudio Fontana. Completam o elenco Mariana Elisabetsky, Nábia Vilela e o pianista Fernando Esteves.

Peça: Réquiem Para Antonio, foto 2

Claudio Fontana vive o genial Wolfgang Amadeus Mozart

O público é direcionado a se sentar em toda a extensão do teatro, reproduzindo a plateia de um verdadeiro circo, assim como os atores se apresentam com maquiagem circense e com narizes de palhaço. Já na primeira fala, Salieri discorre sobre a inveja e o que este sentimento provoca nas pessoas. No ato lembrei-me do livro do jornalista Zuenir Ventura, Inveja Mal Secreto, em que ele faz um paralelo entre ciúme, cobiça e inveja:
Ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem. Inveja é não querer que o outro tenha”. E por isto o autor diz que dentre os demais sete pecados capitais, a inveja é a mais insidiosa deles. O invejoso se satisfaz com a queda do outro, com o insucesso do rival. E por isto talvez Salieri tenha vivido toda a sua vida atormentado, por que por mais que tenha tentado prejudicar o rival, a genialidade de Mozart é cultuada até hoje.

 

“Que espécie de relação tinha Mozart com a música, de tal forma que as notas musicais se submetiam a ele? E por que Salieri, ele próprio muito reconhecido e respeitado em seu tempo, perseguia com tanta obsessão a fama do outro? Minha peça tenta lançar mais alguma luz na direção de dois temas que nunca saem de pauta: a inveja da criação e o sentido da fama”, esclarece Dib Carneiro Neto.

 

No decorrer da trama e em seus delírios, Salieri invoca Mozart, que aparece e de maneira alegre e fanfarrona provoca ainda mais o moribundo. A música, tão intrinsecamente ligada à vida dos dois compositores, funciona como o terceiro personagem da peça: as atrizes Mariana Elisabetsky e Nábia Vilela cantam, com Fernando Esteves ao piano, em contraponto ao duelo de Salieri e Mozart.

Peça: Réquiem Para Antonio, foto 3

Capa do programa da peça dirigida por Gabriel Villela

 

O circo barroco criado por Gabriel Vilela é o grande destaque de Um Réquiem Para Antonio: além da maquiagem, os adereços de Shicó do Mamulengo, a cenografia de Márcio Vinicius e os figurinos assinados por José Rosa e pelo diretor completam o universo mágico e fantasioso da peça. No entanto a interpretação visceral de Elias Andreato e a composição rigorosa e detalhista de Claudio Fontana tornam-se o grande diferencial do espetáculo.
Grande estreia do ano, vá conferir, vale muito a pena!

 

 

 

Fotos: João Caldas


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