Jimmy: monólogo online de Luccas Papp discute homofobia e intolerância

De em fevereiro 8, 2021

 

O ator e dramaturgo Luccas Papp vive o personagem que sofre agressões desde a infância

O dramaturgo, ator e diretor Luccas Papp é um incansável batalhador/ trabalhador do teatro. Se no ano passado, em plena pandemia da Covid-19, ele encenou dois de seus espetáculos — A Ponte e O estranho atrás da porta — já no segundo mês de 2021 ele está em cartaz com outras duas peças de sua autoria: A Bicicleta de Papel em que presencialmente divide o palco com Leonardo Miggiorin e Jimmy, solo online transmitido ao vivo do Viga Espaço Cênico pela plataforma Sympla.

 

 

O monólogo, dirigido pelo ator e por seu irmão Matheus Papp, foi criado tendo como base os depoimentos de diversos integrantes da comunidade LGBTQIA+ e reconstitui a trajetória de Jimmy, um garoto que, pela simples razão de ser gay, sempre sofreu violência. A intolerância começa dentro de casa com a brutalidade do pai, depois perdura no meio escolar e o persegue durante toda a existência.

 

 

Sentado atrás de uma pequena mesa, diante de um espelho que reflete somente seu rosto, o ator inicia o espetáculo dando um depoimento. O espectador a princípio não sabe se é uma entrevista de emprego, uma conversa com uma autoridade ou um depoimento num julgamento: a formalidade no tratamento fica evidente logo nas primeiras falas. Mas logo Jimmy se solta e diz que, se está ali, não vai omitir nada, vai contar tudo o que passou em sua vida.

 

 

Peça é dirigida por Luccas e seu irmão, Matheus Papp

 

 

Com um rigor de detalhes, Luccas — que escreveu a peça inspirada em depoimentos de vários componentes da comunidade LGBTQI+— cria um personagem real e verdadeiro, facilmente reconhecido por todos. Sem afetação, o ator, por meio da modulação da voz e trejeitos das mãos, apresenta um rapaz sensível, que foi vítima de violência e agressões simplesmente por existir. Das surras paternas, ao bullying na escola e à discriminação no trabalho: este o resumo da violenta existência de Jimmy.

 

 

 

“A potência da obra está na forma direta e singela com que os episódios corriqueiros da vida de Jimmy são facilmente encontrados em qualquer contexto social do país. A ideia foi compor o Jimmy com uma leve afetação, que é mais sentida no tom agudo de sua voz e em seus gestos do que na maneira do afeminado em si. O Jimmy apanhou tanto, sofreu tanto que o molde em que ele se encaixou o transformou em sua versão derradeira”, explica Luccas Papp.

 

 


 

 

 

O criativo texto envolve o público e o autor vai aos poucos dando pistas da verdadeira trajetória do personagem. O reencontro com Dudu, amigo de infância e o primeiro namorado, provoca uma reviravolta no enredo: além da homofobia ficar exacerbada, Jimmy passa a questionar dogmas religiosos e o sentido da vida.

 

Mais uma grande atuação

 

A montagem é enxuta e em 60 minutos o espectador tem a dimensão da gravidade do preconceito e como a intolerância e a agressividade corroem a existência humana. Assisti a estreia e talvez exatamente por isto alguns deslizes ocorreram com a sonorização (em algumas movimentações do ator o som ficou baixo). Mas nada que pudesse comprometer o tom de denúncia do espetáculo contra a discriminação à comunidade LGBTQI+. Luccas tem mais uma atuação impecável: sua composição para um personagem tão sofrido comove o público do início ao fim. Imperdível! Fique atento: curtíssima temporada.

 

Roteiro:
Jimmy. Texto, concepção e interpretação: Luccas Papp. Direção geral: Luccas Papp e Matheus Papp. Trilha sonora: Luccas Papp e Gabriel Silva. Iluminação: Luccas Papp. Direção de arte e vídeo:Fernanda Abreu. Fotografia: João Sampaio e Davi Gomes. Produção visual e visagismo: Giullia Abreu. Produção: LPB Produções/CIA EPÍLOGO.
Serviço:
Transmissão ao vivo pelo Sympla. Horários: sábado às 19h. Ingressos: R$ 20, R$ 40 e R$ 60 (valor escolhido pelo espectador). Duração: 60 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 27 de fevereiro.


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